quarta-feira, 27 de junho de 2007

A caixa mágica retangular

Quando ainda estava na época de colégio, ouvi uma historia que me deixou bastante curiosa e intrigada. Em uma das lendárias aulas de história, com aquele professor que tinha o habito de ficar andar de um lado para o outro, estávamos discutindo sobre a ditadura militar, quando aquele homem singelamente careca, ex-punk, que já apanhou dos skinheads, nos relata que – para a minha surpresa - certa vez estava em sua casa durante a ditadura tentando ficar informado, e eu friso o tentando, sobre o que estava acontecendo e inconformado com tudo que a caixa mágica retangular estava introduzindo covardemente em sua massa cefálica, jogou tal aparelho pela janela em um ato extremo de revolta. Por alguns instantes, ficamos todos calados, mudos, paralisados, mas após esse momento de choque achamos que tudo isso não passava de uma grande balela, entretanto o tal professor continuava afirmando a veracidade do seu conto. Do dia daquela história até hoje se passaram alguns anos e só agora eu começo a acreditar que tudo aquilo pode realmente ser muito mais que uma mera ficção.
Há alguns dias atrás estive pensando algo que “volta e meia” me pego pensando, como a caixa mágica retangular nos deixa ociosos, preguiçosos, toma um tempo imenso do nosso dia-a-dia, nos prende e em algumas pessoas escraviza-as? Estava pensando também que há algum tempo, as famílias se reuniam à mesa para conversarem sobre o dia, o que cada um fez e essas coisas que só ajudam no relacionamento entre as pessoas, já hoje as famílias sentam ao redor de uma mesma televisão - isso é quando sentam, pois provavelmente cada membro da família tem a sua em seu quarto – e ficam calados engolindo tudo que a mesma vomita.
Dentre as matérias que estudo na faculdade, ou cadeiras como se fala em outras regiões do Brasil, existe uma na qual discutimos a realidade brasileira, o seu historio, a mídia, o poder coorporativo, entre tantos outros assuntos um tanto quanto polêmicos. Em uma dessas aulas falamos sobre a manipulação da mídia, os seus padrões de ocultação, fragmentação, inversão e indução e toda essa explanação feita pela professora só fez comprovar ainda mais minha tese.
Como posso ficar recebendo informações de um aparelho que tem o principio e objetivo de aumentar o faturamento de sua empresa, ao em vez de informar sobre o que está acontecendo? Como posso confiar em órgãos que não cumprem com a verdade, que quando acontece um acidente são extremamente sensacionalistas mostrando detalhes do fato, depoimentos de pessoas sofrendo e por fim depoimento de autoridades, as quais inibem a ação comunitária, apenas para reter um público? Como acreditar em um aparelho que não passa valores e cultura aos seus telespectadores e sim inutilidades na maior parte do seu tempo? Concordo que todos nos precisamos ver “besteira” para aliviar o nosso sofrimento diário, mas isso em maior parte do tempo?
“Agora eu olho para a tv, só quero ver o que ela vai dizer, suas informações fragmentadas, palavras soltas, imaginarias”.
O engraçado dessa história é que eles também mostram que “homens de paletó são incontestáveis”. Às vezes prefiro imaginar que tais ações de manipulação são na verdade a ilusão de acreditar que o povo é burro – o que tem alguma lógica - e acredita em tudo que vê sem questionar nada. De certa forma, essa lógica por parte deles está até certa, pois temos um povo que não lê, que não estuda, que não desenvolve a consciência critica e que o que vê superficialmente não tem interesse de aprofundar, fazendo com que os homens de paletó façam o que bem quiserem.
Todos dizem que somos livres, e acredito que esse pensamento venha da idéia de não termos mis senhores nos comandando e muito menos algemas em nossos braços. Porém o que parece que poucos percebem é que nossa liberdade ainda nos é agredida, ainda nos é roubada. Não temos nossa liberdade de escolha, de opinião, de idéias completamente nossas. E até mesmo aqueles que acham que esse texto não os interessa por serem de esquerda, liberais, cabeças abertas ou qualquer outro segmento que fuja do habitual, lembre-se, essa idéia, essa ideologia também é passada para você pela mídia (ou por uma parte dela). Ela também quer que você seja dessa maneira, pois isso a alimentam e muitas vezes a solidifica.
Imagino que a melhor a maneira de não entrar nesta roda furiosa, é na verdade não participar dela. Agora acredito e compartilho da idéia do meu querido professor de história. Quero ler mais, escrever mais, produzir mais, conhecer novos lugares, novas pessoas, ver a paisagem que está ao meu redor, andar de bicicleta, jogar gude, empinar arraia, brincar de boneca, pega-pega, esconde-esconde, policia e ladrão, admirar o por do sol e tantas outras coisas que esquecemos de fazer. Não quero mais ficar deformando o estofado o sofá da minha casa. A solução enfim, é jogar a caixa mágica retangular pela janela, escada, pela varanda, etc e ver ela lentamente caindo através da ação gravitacional já explicada por Nilton e se espatifando no chão, vendo suas peças pouco a pouco se espalhando por um raio que pode ser calculado com a altura e o peso do equipamento, e assim voltar a viver.
Alias...é exatamente o que eu vou fazer agora!

terça-feira, 5 de junho de 2007

A voz das Urnas

"QUALQUER SEMELHANÇA É MERA COINCIDÊNCIA"
Em época de eleição, é até um grande clichê escrever sobre o processo eleitoral, sobre a consciência eleitoral, sobre a honestidade dos candidatos, sobre o “mensalão”, a CPI das “sangue sugas”, dinheiro na cueca e tudo mais que estamos a assistir habitualmente em nossas casas ou ouvir pelo rádio e tudo mais. Desta vez, algo me cutuca de forma diferente, e venho relatar uma história.

Certa vez acordei normalmente. Era um dia de eleição. Como de costume, fui cumprir o meu dever cívico, e acima de tudo, atuar como um real cidadão. Ao chegar no posto eleitoral, percebi de longe um certo alvoroço, que inicialmente não pude identificar o porquê. Pessoas correndo de todos os lados, muitas falando desesperadas pelos celulares, muitos repórteres com suas máquinas, câmeras e microfones. Calmamente entrei e caminhei até a minha sessão eleitoral. A realidade que tinha avistado de longe, não era diferente até o caminho da sala. Ainda sem entender, entreguei meu titulo de eleitor, e perguntei ao mesário o que estava acontecendo, qual o motivo de tanta agitação. Ele apenas me respondeu, “veja você mesmo”.

Fui até a cabine eleitoral quando me deparei com algo que jamais imaginei ver em toda a minha vida, e que, por conseguinte, nunca tinha visto coisa no mundo parecida – tudo bem que não sou uma pessoa muito vivida, mas de qualquer maneira era realmente estranha a situação que agora irei narrar.

De frente a urna eleitoral, tentei apertar os botões referentes ao meu canditado. Nesta hora, a urna eleitoral, vejam bem, a urna eleitoral, me disse que estava de greve, e não iria aceitar voto algum, seja lá de quem fosse e para quem fosse, a não ser se esse voto, fosse um voto nulo, pois se mais de 50% dos votos forem nulos, a eleição seria anulada, e os candidatos não poderiam se candidatar novamente. Fiquei perplexo com a cena que acontecia. Mas ela não parou por ai. Continuou dizendo que todas as urnas do país não computariam um voto sequer, a não ser os nulos. “Nos estamos cansadas de toda vez ver vocês humanos, seres dotados de inteligência e polegar opositor, votarem, votarem e votarem, e nada mudar. Cansadas de ver e ouvir através das nossas amigas televisões e aparelhos de rádio que os candidatos eleitos só roubam, e não fazem nada para a população. Sei que isso não é de nossa conta, mas já que vocês, os seres superiores que fazem guerra, matam e destroem não fazem nada, alguém tem que fazer algo, e dessa vez quem fez fomos nós”. Narrou a urna.

Mais que de repente, uma repórter invade a cabina eleitoral e começa a fazer uma reportagem com essa urna. Fui me afastando, afastando, até sair completamente da cabine e por sua vez da sala, e fui passando nas outras sessões eleitorais. O discurso dito pela – vou chamar aqui de “minha urna” – minha urna se repetia.

Sem ter opção, voltei para casa com tudo aquilo na cabeça. Como é possível urnas fazerem greve? Será que eu realmente estava sóbrio? Aonde tudo aquilo iria parar?

Indo para o ponto de ônibus, parei em uma padaria que tinha uma televisão, e várias pessoas ao redor. Eufórica, a líder das urnas dizia que era para nós irmos as ruas e lutar por um futuro mais digno. Para sairmos da televisão, antes que elas começassem a distorcer os fatos e receber suas mesadas por parte dos políticos para que o caso fosse abafado. Curiosamente, quando ela acaba de falar a palavra “abafado”, o sinal de televisão é cortado e no lugar da entrevista, entra um programa esportivo.

Fico me perguntando, o que é mais correto? Ficar em casa, assimilando tudo que é vomitado para mim através dos meios de comunicação, ou de fato ir as ruas e lutar por algo mais digno? Até aonde todo esse alvoroço iria, e o qual seria a sua grande conseqüência?

Soube depois, que ao mesmo tempo em que tomava um cafezinho pensando em toda essa situação bizarra, os filósofos, sociólogos e intelectuais do Brasil, estavam todos reunidos tentando decifrar esse quebra-cabeça. Cheios de técnicas, tentavam encontrar uma solução emergencial, pois, não poderíamos ficar sem eleição, não poderíamos ficar sem votar e sem cumprir o nosso dever com a pátria.

Por outro lado, alguns políticos, serviram-se desse fato, como quem come em um banquete após ficar semanas sem ingerir nada. Fizeram a tão proibida “boca de urna”, distribuíram santinhos, adesivos. Alguns apoiaram as urnas, e outros descordaram profeticamente, deixando a população ainda mais confusa.

Por volta das 11 horas, o exército já estava nas ruas para segurar o povo e todo o “mangue” feito com a situação. Imaginem o que é para uma população urnas ficarem em greves e ninguém tomar uma solução, ou explicar o fato.

No percurso até em casa, o que mais vi, foram os bares cheios de gente enchendo a cara, tomando todas – mesmo sabendo que é proibida a venda de bebidas alcoólicas no dia de eleição. O que será que eles pensavam sobre tudo isso, se é que estavam sabendo do acontecido.

Após uma hora de engarrafamento, chego em casa, e mais que imediatamente ligo a televisão para ver as novidades da nomeada “Voz das Urnas”. Para a minha surpresa, a televisão dizia que tudo estava aos poucos sendo controlado, e que ainda hoje, os cidadãos brasileiros iriam votar no candidato que achavam mais coerente para assumir o cargo que fosse.

Fiquei em casa, rodando de um lado para o outro, abrindo e fechando a geladeira, em busca de respostas, de soluções, de uma definição pra tudo isso. Até hoje não sei o porque, mas liguei o rádio para tentar ter uma noticia mais imediata. Tentava buscar uma freqüência de uma rádio que gosto, mas não encontrava. Na verdade não encontrava nenhuma rádio, não conseguia sintonizar nenhuma delas. Indignado, tentei mais uma vez, e no final das freqüências, encontrei uma rádio que se auto denominava de “rádio pirata”.

“É povo amado do Brasil, o que estamos vivendo hoje é um dia para entrar na nossa história. A partir de hoje, as coisas serão diferentes. Estamos cada vez mais abrindo os nossos olhos, e vendo a luz no fim do túnel, que sempre esteve ali, mas nunca andamos até ela. Vivemos em uma sociedade que roubar dá status. Aquele que não rouba não sobrevive, e quem rouba pouco é imbecil. A própria maquina eleitoral e estado pagam para os meios de comunicação apoiarem um candidato ou outro, manipularem as informações e conseqüentemente distorcê-las. Fazer com que a população pense que está tudo bem, quando não está. Mais uma vez digo, a qualquer momento podemos ser tirados do ar, mas esperamos que fique esta mensagem. É chegada a hora de fazer algo, e porque você não pode dar o primeiro passo, em vez de ficar só reclamando? Tem uma metáfora que diz que temos que plantar a semente, mas, acredito que antes disso, a terra tem de ser arada. A mudança é lenta, mas se acreditamos nisso, a maioria pode fazer que suba alguém que realmente ame tudo isso. Repito, a qualquer momento podemos sair do ar”.

As palavras do radialista eram realmente muito bonitas e ufanicas. Elas atiçavam uma reflexão, uma grande reflexão. Ainda ficaram no ar por mais uma hora, que foi quando faltou luz. Pensei, agora “a casa cai”. Depois de tudo que aconteceu, ainda por cima a luz cair...algo estava por trás de tudo aquilo.
Por volta das 16h, a luz volta. Ligo ansiosamente a televisão. Percebo que em todos os canais, alguém ligado ao TRE diz que “tudo está sobre controle povo brasileiro. Esse fato foi algo que deve ser esquecido das nossas memórias. Um ato vândalo e insensato. Todas as urnas ligadas com a greve foram presas e levadas até a nossa fábrica para terem seus sistemas reinstalados. Novas urnas já estão nos postos eleitorais de todo o Brasil esperando o seu voto. Vamos as ruas votar”.

Achei isso algo completamente absurdo, mas quando caminhei novamente a minha sessão eleitoral, percebi que era o único que pensava assim. Era como se as pessoas tivessem esquecido completamente tudo que tinha acontecido horas atrás. A sessão eleitoral parecia que não tinha havido problema algum. E as pessoas felizes e sorridentes votavam e voltavam as suas casas esperando, ansiosas, o resultado das eleições, que por sinal foi divulgado oficialmente as 4:37h de segunda-feira.

Passados 1 mês da eleição, era como se o fato nunca tivesse existido. Alguns estudantes que tentaram continuar com a revolta, foram presos. Os meios de comunicação voltavam à atenção do povo para outros fatos importantes ou não da sociedade.

Sei, que no final das contas, já se passaram quase 3 anos da –para mim- polemica eleição, e o povo reclama das mesmas coisas que há 3 anos reclamavam, que há 4,8,12 anos também reclamavam. Os esquemas continuam e, por conseguinte toda a roubalheira. Agora temos a CPI das lavanderias, o processo contra a compra dos votos e tudo mais que não muda.

A democracia é uma invenção da modernidade. Acredito, que como criadores, deveríamos poder mover nossa criação e direciona-la de forma adequada, mas não é isso que está acontecendo. Fico a pensar no que a “minha urna” me disse, e que se será necessário outra revolução das urnas, ou se ficaremos esperamos que os celulares, os aparelhos televisivos e também os de rádios, os computadores também façam greves e nos mostrem o que devemos fazer? Aonde está a tal inteligência que nos separa de todo o resto, e aonde usamos o nosso “polegar opositor”?

São dúvidas que não cabem a mim responder, pois não votarei por você, não respirarei por você, e muito menos viverei por você, nem por cada um que lê esta “matéria”(?). “E por mais louco que possa parecer, não ouça, pois posso ser apenas mais um tijolo daquele muro que você quer passar”.